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O código da raiva na família


Sabemos que muitas famílias estão em dificuldades em casa com filhos pequenos e filhos adolescentes. As reclamações dos pais são infindáveis: eles não me obedecem, me respondem, me xingam, eu bato, deixo de castigo, tiro o que eles gostam, mas não adianta. Não sei mais o que fazer. E as reclamações dos filhos também seguem a mesma linha: meus pais são uns chatos, só enchem o saco, não me deixam fazer nada, vivem me dizendo você pode, você não vai, vai pro seu quarto, etc.


E neste ambiente hostil, cheio de sentimentos negativos, É a raiva que se sobressai e que está implícita nessas falas. Pois por trás delas, há sentimentos encobertos e escondidos que não podem ser expressos ou ditos abertamente.


A raiva é uma emoção básica do ser humano, assim como a alegria, a tristeza, o medo. Por ser algo que traz sentimentos negativos, nossa sociedade e nós mesmos pregamos que ela é má, e que não deve existir. Alem de termos a raiva como algo que não deve existir, também transmitimos às nossas crianças e adolescentes que ela é inaceitável.


E como a raiva é uma emoção básica do ser humano, percebemos que as crianças e adolescentes se sentem muito culpadas e desvalorizadas quando ela aparece. Por outro lado, nós adultos percebemos a raiva nos outros, nos amigos, nos vizinhos, no esposo, na esposa, mas não admitimos que nós também sentimos raiva de muitas coisas. E se você não admite que sente raiva, como vai entender a raiva do outro? Se você não conhecer seus desejos e sentimentos, como vai entender os desejos e sentimentos dos outros? Seja ele seu filho, seu esposo, esposa, amigo?


No decorrer de nossas vidas, os sentimentos negativos podem ter diferentes significados de acordo com a fase em que estamos. Na infância, a raiva aparece quando as necessidades físicas e emocionais não são satisfeitas. Por exemplo, o estômago vazio, a fralda molhada, a necessidade de carinho, faz com que a criança chore pedindo ajuda. Quanto mais rápido esse pedido de ajuda for atendido, menos raiva e frustração a criança terá, e conseqüentemente, terá menos ataques de raiva e choro.


Na idade pré-escolar, a raiva aparece porque a criança tem necessidade de poder e independência. Ela quer controlar a casa, mas os pais não deixam. Quer controlar a brincadeira e os brinquedos, mas o convívio social com outras crianças não a permite, ela quer sair correndo pelo corredor do shopping, mas ela não pode. A vida nesta idade tem muitas frustrações necessárias para o bom convívio social da criança.


Na adolescência, a raiva surge por muitos motivos: a necessidade de maior independência dos pais, a procura de amigos da mesma idade, a vontade de sair sem dar explicações ou não ter hora para chegar em casa, a privacidade, as opiniões diferentes dos pais, o modo por vezes radical e sonhador de ver o mundo. Quando os pais se perdem nesta montanha russa de emoções e frustrações ao tentar lidar com os adolescentes, as diferenças aparecem e a raiva toma lugar na convivência.


Na idade adulta, a raiva vem com as frustrações da vida diária, como o chefe chato, os colegas de trabalho que dão trabalho, os filhos desobedientes, a esposa, o esposo, o dinheiro, a doença, o lazer que não descansa. Muitos são os motivos.


Por mais que as frustrações sejam ruins e nos tragam dor, elas são necessárias. Na dose certa e na ocasião adequada, aumenta a tolerância ã frustração e dá mais condições para uma maior assertividade e aprendizado com nossos erros quando crescer. Na dose errada, a frustração em excesso nos faz ficar mais sensível e intolerante, pouco realista com a vida e dificuldades diárias, bastando por vezes um esbarrão para criar uma cena.


Se pararmos para pensar, a raiva é apenas um código. Um código para esconder outro sentimento. Como assim? O que a raiva esconde? Vou dar alguns exemplos tirados e adaptados do livro: A AUTO-ESTIMA DO SEU FILHO para podermos visualizar e entendermos melhor.

CASO 1: o senhor Ernesto apressa-se para limpar a garagem antes que seus familiares cheguem. Tão logo ele joga alguma coisa fora, ele percebe que seu filho de seis anos traz tudo de volta. Indignado com o trabalho dobrado, ele explode: Chega, menino! Já estou cheio de você, saia daqui! Qual foi o código da raiva? A indignação do pai por refazer o serviço na pressa.

CASO 2: durante um coquetel, Ana percebe que seu marido está dando atenção especial para a garçonete atrás do balcão. Quando ele volta para junto da esposa, ela fala ironicamente: o que houve garanhão? Cansou de babar no balcão? Vai, fica com ela! Qual foi o código da raiva? O medo da perda e o ciúme.

Outros códigos e sinais indiretos de raiva também aparecem todos os dias e nem sequer percebemos. Quando a raiva não pode ser expressa abertamente, formas substitutivas aparecem. São a implicância constante, os mexericos e fofocas, o sarcasmo, as brigas sem motivos, o responder atravessado, a desobediência, os maus hábitos diários que não mudam.

Esses casos nos mostram que a raiva cobre uma emoção ou sentimento anterior e que a raiva raramente vem em primeiro lugar. Sabendo disso, fica mais fácil enfrentar os acessos de raiva em si mesmo e nos outros e a raiva fica menos ameaçadora, colocamos menos lenha na fogueira. O que fazer então?

Então, quando você se deparar com uma cena de raiva, pense em 4 passos/atitudes para tentar solucionar a situação:

1- veja a raiva encobrindo e disfarçando algo. Tente descobrir o que é e não responda à raiva com raiva.

2- crie um ambiente favorável para falar sobre o verdadeiro motivo encoberto

3- fale sem rodeiros e culpa sobre sentimentos e incentive o outro a falar

4- cheguem a um consenso, uma solução que seja bom para ambas as partes.

Quando a raiva é canalizada desta forma clara e harmoniosa, você contribui para o amor e respeito próprio e dos outros. Essas atitudes fazem a gente se sentir valorizado e ouvido com respeito. E é claro, os laços são fortificados e pais e filhos, parentes e amigos e colegas de trabalho passam a ser mais unidos e confiantes.

Para saber mais, fale com a psicóloga. Para saber como podemos ajudar você e seu filho, veja como funciona nosso Programa de Orientação de Pais.

Por Psicóloga Patrícia Machado (CRP 01/9368).

MBA em Clínica Interdisciplinar da Infância e Adolescência e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental.


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